sexta-feira, 17 de outubro de 2008

Isso é oque os amigos fazem

Sentado na borda da Fonte, com apenas seus pés tocando a água, o Bobo sentia que nada ruim poderia acontecer com ele, assim, Abimeleque chegou, fantasiado de mendigo como sempre e sentou ao seu lado.
Conversaram coisas banais sobre a vida como amigos devem fazer, e então o Bobo olhou sua imagem na água límpida da fonte. E via Aba, olhando para o lado em que Abimeleque estava. Ele parecia desesperado.
Quando o Bobo virou, percebeu que um guarda viera atender as ordens do Rei: Matar todos os mendigos que habitavam a cidade, a fim de torná-la mais bonita.
Quando o guarda desferiu o ataque, o Bobo tomou a frente de Abimeleque levando duas facadas na região do abdomen e caindo dentro da fonte.
Enquanto a água se tornava vermelha, à medida que o sangue do Bobo saía do seu corpo e misturava-se com a água, Abimeleque mostrou a sua verdadeira identidade, causando o espanto de todos, segurou o Bobo pelos ombros e viu ele sorrindo. Então disse:
-Você não precisava ter feito isso!
O bobo respondeu:
-Isso é oque os amigos fazem.
Ele sorriu. E, depois de suspirar três vezes, seu pulmão parou de puxar o ar ao seu redor, seu coração parou de bombear sangue para cada parte do seu corpo, e sua mente parou de divagar, transformando o mundo num lugar mais triste (ou mais feliz, depende da sua opinião a respeito dele).

sexta-feira, 10 de outubro de 2008

Consciência tranquila

Após esse momento de total intimidade, na qual o Bobo fica frente a frente com a sua Consciência, ele se sente mais leve.
E parece que todos percebem isso!
Ao passear no reino, todos o cumprimentam, com sorrisos e acenos com a mão. E isso lhe lembra de algo que Aba disseram a ele em uma das suas conversas.
"Se você pensar em coisas boas, e estiver bem, as pessoas também se sentirão bem ao teu lado."
E era isso que estava acontecendo, todos se sentiam à vontade ao lado do Bobo, se sentiam seguros, pois ele estava seguro, ele sabia oque queria da vida, ele sabia oque tinha que fazer para que conseguisse seu maior objetivo terreno: ser feliz!

quarta-feira, 1 de outubro de 2008

Quem é Aba

E o tempo passa, e a angústia de Aba e do Bobo vai passando junto com ele, mas a passos lentos, como se demorasse uma eternidade para se dar uma volta ao redor da praça do reino.
Após a morte de Leda, o Bobo começou a passar muito tempo com Aba, e começou a perceber que o mesmo era muito parecido com ele, quando o Bobo se sentia angustiado, ele ficava do mesmo jeito, mas sempre dizia alguma frase que o fazia refletir, fazendo o Bobo sentir-se melhor..a mesma coisa ocorria se o Bobo ficasse triste, feliz ou com raiva.
Isso foi ficando cada vez mais evidente, e então, Aba chamou o Bobo para conversar:
-Lembra do dia em que nos conhecemos? Quando eu disse que você devia aprender sobre amizade?
-Claro que lembro! -respondeu o Bobo sorrindo- você apareceu num momento em que eu estava muito confuso, e conseguiu simplificar tudo.
-Pois é, -continuou Aba, sério, mesmo que seu amigo estivesse sorrindo- eu preciso lhe contar uma coisa.
O Bobo sentiu um calafrio percorrer a sua espinha, como se um milhão de agulhas penetrassem na sua carne, fazendo com que ele se sentisse incomodado com a conversa.
-Eu sou VOCÊ! -disse Aba- Sou aquilo que te faz pensar, e, que numa hora de muitos pensamentos, acabou sendo expelido, pois, com tantas perguntas a serem feitas, não havia mais espaço para mim: a sua consciência. Por isso sempre quis o teu bem, por isso todas as tuas perguntas eram dirigidas a mim, por isso eu sempre aparecia quando estavas aflito. E, agora que já não estás mais tão confuso, chegou a minha hora de partir. Mas não irei embora, pode ter certeza que estarei sempre contigo, aqui! -sorriu Aba, apontando para a cabeça do Bobo.
Sem saber oque fazer, o Bobo sorriu, e ao mesmo tempo chorou. Feliz por perceber o quanto a sua vida melhorara de uns tempos pra cá, mesmo com a morte de Leda e a ida do Malabarista para outro lugar. Ele agora dava valor ao que chamam de amizade.
Aproximando mais o dedo, Aba encostou na cabeça do Bobo, e, como se estivesse sendo sugado, regressou ao seu lugar de origem.

quinta-feira, 25 de setembro de 2008

A missa e o aniversário

Sete dias se passam..
E a missa de sétimo dia da morte de Leda, é triste. Nunca na história do reino se vira tantos palhaços chorando..já é dificil ver um chorando.
O padre fala alguma palavras bonitas, mas elas entram por um ouvido do Bobo e saem pelo outro. Nesses sete dias, só palavras duram chegam a ser captadas pelos seus timpanos, parece que nada mais na vida interessa para ele. Aba também está presente, flutuando sobre a cabeça dos convidados, e parecia ser a pessoa mais abalada pelo acontecimento, junto com o Bobo.
E por uma coincidência maldita, a morte de Leda ocorreu exatamente 7 dias antes do aniversário do Bobo..e nesse dia, ele não pensava em comemorar, nem esboçara um sorriso, pois o presente que queria nunca poderia lhe ser dado: a volta de Leda ao mundo dos mortais.

domingo, 14 de setembro de 2008

...de Anúbis

O bobo marcou um encontro com Leda, ele havia tudo planejado. Eles jantariam no melhor restaurante da vila, e depois ele daria o colar de presente a ela.
E enfim ela chegou, um pouco atrasada é verdade. E o bobo ao olhar pra ela, sentiu a mesma coisa que sentia todas as vezes. Um friozinho na barriga. As borboletas no estômago, desde as primeiras vezes que a vira, elas estavam ali, e pareciam não querer ir embora.
Se cumprimentaram com um beijo e foram jantar. Após um jantar delicioso, que ele só conseguira pagar por ter pego algum dinheiro emprestado de Abimeleque, eles e dirigiram a saída do restaurante, e ao chegarem a rua, o bobo a segurou pelos ombros e disse que tinha um presente pra dá-la.
Os olhos de Leda brilharam ao ver o presente, ela não se conteve e caiu em lágrimas. E eles se beijaram, ao gosto salgado das lágrimas de Leda.
Então, ela disse a ele que esquecera seu cachecol no restaurante. Prontamente, o bobo foi buscá-lo.
De repente, ele ouviu um grito..
Quando voltou correndo, Leda estava no chão, muito sangue estava espalhado na calçada. Uma adaga estava junto ao corpo dela, enquanto, ao longe, via-se um garoto correndo com uma corrente de prata, com uma pedra brilhante na ponta.
Ao se abaixar para falar com Leda, ela só sorriu e disse:
- Obrigado por todo o tempo que passamos juntos..eu te amo!
O olhos do Bobo se encheram de lágrimas..olhou nos olhos dela, e disse:
-Dorme minha pequena, não vale a pena despertar.
Os olhos de Leda se fecharam, e como se realmente estivesse sonhando, ela dormiu...para sempre!

sexta-feira, 12 de setembro de 2008

O presente...

E, assim, o bobo conheceu seu verdadeiro amigo.Não Ubaldo, o mendigo, mas sim Abimeleque, o filho do Rei.
E o Bobo vai seguindo com a vida, levando ela devagar, sem nada que causasse supresa..
Um dia desses, conversando com Abimeleque, este perguntou:
-Você a ama?
-Quem?,respondeu o bobo.
-Ora, que pergunta mais besta. Leda! Você a ama?
O bobo parou pra pensar. Percebeu que ao lado dela ele era feliz, ele se sentia bem. Ele sentia calor quando estava com frio, e sentia-se seguro quando estava com medo.
Percebeu que o sorriso dela o iluminava numa noite escura, que o seu suspiro era o que o fazia respirar num momento de angústia. E se isso era amar, ele a amava mais que tudo nesse mundo!
-Eu a amo!, respondeu ele.
-Eu já sabia, respondeu Abimeleque sorrindo, por isso trouxe esse presente para você dar a ela.
Então, ele mostrou ao bobo a jóia mais linda que este já vira. Um colar de prata simples, mas que trazia na simplicidade, uma beleza inimaginável, parecia uma serpente prateada, que tinha na sua ponta uma pedra de safira, verde, que brilhava tanto quanto os olhos do bobo ao olhar para ela.
-Onde você conseguiu isso?, perguntou ele.
-Minha mãe não vai sentir falta disso, já tem jóias demais.
O bobo relutou bastante, mas ao perceber que Abimeleque não devolveria a jóia à Rainha, resolveu aceitá-la.
E marcou um encontro com Leda, a fim de entregar-lhe tal jóia...

terça-feira, 2 de setembro de 2008

Você me perdoa?

Após um tempo pensando e só vendo os lábios de Abimeleque se mexerem, sem ouvir suas palavras, o Bobo voltou a si.
-Você me perdoa?
Foi oque ouviu ele.
-Você me perdoa por ter te enganado. por não ter te dito quem eu realmente era?
O bobo encarou o príncipe por um momento, e pensou em todas as conversas que havia tido com Aba sobre amizade.
-Claro que te perdoo. Amizade não é apenas ser alegre e se divertir, é também perdoar as mentiras dos outros, mas também mostrar que não aceita ser enganado novamente, mostrar que pode ser confiável, e que amigos precisam de um ombro para se consolar, de um abraço para acalmar. E quero te mostrar que posso ser esse ombro, que posso ser esse abraço.
O príncipe sorriu, e chegou mais perto do Bobo.
Este, sorriu também, abraçou o príncipe, e sentiu-se bem. Percebeu novamente como era bom ter amigos depois de deixar o malabarista ir embora.

sexta-feira, 22 de agosto de 2008

O filho do Rei

Ubaldo..
ele é o filho do Rei..ele é o Príncipe!
Por isso ele ficara tão irritado quando o Bobo reconhecera sua risada, por isso que o príncipe não ria das piadas do Bobo.
Por isso que ele fugia dos guardas, ele temia ser descoberto.
O príncipe saiu correndo, e todos ficaram sem entender, exceto o bobo.
Ele continuou a apresentação, ou a cabeça que iria rolar era a dele, então foi ao pátio, procurar por Ubaldo.
Chegando lá, viu uma pessoa encolhida, encostada numa pilastra, e foi falar com ela:
-Ubaldo?, perguntou o Bobo.
-Não me chame de Ubaldo, esse não é meu verdadeiro nome. Eu me chamo Abimeleque, disse o Príncipe.
-E porque você faz isso Abimeleque? Porque foges de uma vida maravilhosa? Onde tens tudo que queres! Porque isso? Porque queres uma vida na qual tens que andar escorado nas paredes para que não vejam teu rosto?
-Porque eu posso ter tudo, meu pai pode me comprar amigos, namoradas, preparar banquetes que fariam inveja à Baco...mas ele não pode me comprar felicidade. Felicidade essa que só posso ter sendo livre!
Abimeleque soltou um suspiro, um suspiro profundo, como se um grande peso tivesse saído de dentro do seu peito.
-E percebi que, pra ser livre, eu não podia ser Abimeleque, eu precisava ser Ubaldo. Não podia ser o filho do Rei, tinha que ser um espírito ousado.
O Bobo parou por um tempo, e enquanto fitava o rosto de Abimeleque pensou:
"Quantas vezes não pensamos em ser outras pessoas, quantas vezes achamos a grama do jardim vizinho mais verde. Será que temos motivo para isso?"

segunda-feira, 11 de agosto de 2008

O verdadeiro Ubaldo

Durante um tempo, o Bobo ficou parado, como que em estado de choque, esperando que o seu cérebro desse o sinal de partida, esperando que enviasse o comando "cai na real!", afim de que ele segui-se seu caminho, deixando Ubaldo de lado.
Demorou para isso acontecer, e, quando aconteceu, apenas parte dele havia esquecido o ocorrido, enquanto a outra parte dele pensava no que havia acabado de acontecer.
Porém, o espetáculo tem que continuar!
O Bobo ia se apresentar durante uma festa no Palácio, seria a atração principal de uma reunião entre o príncipe e os seus jovens amigos.
Assim, o Bobo vestiu uma roupa bonita, um macacão vermelho com dourado, junto com um chapéu da mesma cor, e se dirigiu para o Salão de Festas.
Após ser anunciado, entrou no palco triunfante, ao som de gritos histéricos dos jovens. Começou sua apresentação com um pouco de malabarismo, e de vez em quando dava uma cambalhota ou uma estrelinha.
Depois, como fazia tradicionalmente, começou a contar piadas, os jovens riam muito. Mas ao olhar para o rosto do príncipe, percebeu que o mesmo se encontrava sério. Só que ele não estava sério por vontade própria, parecia segurar o riso por algum motivo.
Então, o Bobo contou sua melhor piada. O príncipe não aguentou.
Soltou uma gargalhada enorme. E quando isso aconteceu, o Bobo sentiu que já conhecia essa risada, e um nome veio a sua cabeça: Ubaldo!

domingo, 3 de agosto de 2008

A volta de Ubaldo

Haviam passados já semanas que o Malabarista havia ido embora, e a mente do Bobo já se sentia tranquila quanto a isso.
Enquanto caminhava pelo pátio do castelo, alguns guardas cruzaram seu caminho e o cumprimentaram. O cumprimento foi respondido e ele seguiu seu caminho, até esbarrar com Ubaldo, que estava escondido atrás de uma pilastre.
-Eles já foram?, perguntou Ubaldo.
-Os guardas? Sim, já se encontram distante daqui.
-Ufa, -respirou Ubaldo aliviado- essa foi por pouco!
O Bobo odiava isso em Ubaldo, não sabia o porquê desse medo dos guardas, ele parecia uma pessoa com juízo, pelo menos parecia.
Passaram um tempo conversando, e o Bobo, que não conseguia parar de fazer os outros rirem nem nas suas horas vagas, conseguiu tirar uma gargalhada gigantesca de Ubaldo. Ele começou a rir de um jeito que o Bobo nunca virá. Porém, por algum motivo, essa risada lhe parecia familiar.
Ubaldo notou o olhar estranho do Bobo e lhe perguntou oque havia acontecido. O Bobo lhe falou sobre a risada. O rosto de Ubaldo tomou um ar sério, de repente. Ele se levantou e enquanto ia embora, o Bobo o segurou.
Ubaldo proferiu algumas palavras que ficaram martelando a cabeça do Bobo por algum tempo:
-Nunca mais fale comigo!

segunda-feira, 28 de julho de 2008

Leda...

Aproximando-se cada vez mais, a ponto de ficar cego, o Bobo fechou os olhos..
Andou mais um metros e ouviu uma voz:
-O que aconteceu?
Ao abrir os olhos, viu Leda, o amor da sua vida.
-O Malabarista foi embora! -disse o Bobo, chorando- E eu não sei oque fazer.
Leda olhou o Bobo nos olhos e o abraçou. Ele foi envolvido por uma coisa quente, como se uma manta tomasse conta do seu corpo, fazendo com que tudo de ruim fosse embora, e só felicidade existisse dentro dele.
Ele ficou com o corpo mole e caiu no colo de Leda. Ela repousou a cabeça dele no seu ombro, e adormeceu, junto com ele.
Ao acordar, o Bobo olhou para o lado e viu ela.
E ficou observando-a dormir, e percebeu que essa era a melhor coisa do mundo, e que o tempo nao passava enquanto ele a fazia.

terça-feira, 22 de julho de 2008

Vagando pela memória

Voando, grandes aves negras cobrem o Sol.
O mundo fica escuro, só sendo iluminado pela luz do último vagão de um trem.
As plantas vão morrendo, os cachorros e gatos enlouquecem, e, cegos, batem com a cabeça nas paredes ao redor.
Casais que antes andavam de mãos dadas se separam, pais e filhos agora se odeiam..
A vida está agora ao contrário, já que seu irmão foi embora.
O Bobo não sabe oque faz enquanto lembra os momentos vividos ao lado do seu irmão, se chora, se o segue, ou se vira as costas.
Porém, ao longe, enxerga uma luz. Corre em direção a ela...

sábado, 5 de julho de 2008

O circo vai embora

Picadeiro desarmado, coisas arrumadas num canto, animais presos noutro.
O Bobo corre à procura do Malabarista, será que ele já fora embora?
Depois de muito procurar, encontrou o Malabarista sentado num canto escuro, parecia triste. Então o Bobo sorriu, e perguntou:
-Oque é isso amigo, não está feliz de voltar pra casa?
O Malabarista levantou o rosto, sem a preocupação de limpar as lágrimas que corriam pelo seu rosto.
-Meu lugar é aqui, disse ele, perto de você! Aqui é o único lugar no qual consegui conquistar mais que um amigo, te tornastes um irmão pra mim. E mesmo tendo nos afastado um pouco de uns tempos pra cá, o lugar do meu coração reservado às lembranças que vivi junto a ti, está guardado.
Um sentimento estranho tomou conta do Bobo, seu estômago começou a embrulhar. Como pudera fazer o mal a tão amável criatura. Como pudera fazer isso a uma pessoa que gostava tanto dele, e da qual gostava tanto.
Uma sirene tocou, enquanto o pensamento do Bobo voava.
-Chegou a hora de eu ir, falou em tom de tristeza o Malabarista.
O Bobo estava pensando em muitas coisas pra dizer, e acabaria se enrolando caso tentasse pronunciar alguma palavra.
Ao invés disso, deu um abraço forte no Malabarista, um abraço daqueles que diz "pode contar comigo, estarei sempre aqui!". Foi retribuído com duas palavras, que simbolizavam tudo o que ele queria dizer, mas não pensara no modo.
-Seja feliz!, susurrou o Malabarista sorrindo.
Um olhou o outro, um olhar profundo.
Se viraram, e cada um seguiu sua direção. Sabendo que o adeus, era na verdade um até logo.

sexta-feira, 27 de junho de 2008

Vivendo a vida que sempre quis

E a vida segue, feliz, o Bobo não quer saber de nada, só de Leda.
Continua falando com Aba e Ubaldo, mas seu contato com o Malabarista se tornou muito pouco, quase nenhum.
Até que um dia, Leda diz que precisa comprar algumas coisas que a feira do reino do Bobo não fornecia, e se dirigiu ao outro reino. Assim, por estar sozinho, o Bobo começou a pensar em tudo que passara pela sua vida durante esses últimos meses.
E seu pensamento parou no Malabarista, o que será que ele estaria fazendo a essa hora? Será que ele sentia falta do Bobo? Essa falta, que o Bobo só percebera agora que estava sozinho, seus amigos tinham sumido.
Ele havia afastado a todos, amigos que ele lutara tanto pra ter e perdera tão facilmente.
Uma lágrima começou a rolar do seu rosto. Ele a limpou rapidamente, antes que alguém visse, e saiu correndo atrás a procura do Malabarista.
Chegando no circo, uma surpresa...

segunda-feira, 16 de junho de 2008

O instinto

"O tempo não pára e espera, Ele passa e desespera!"
Essa frase, dita por Aba num dos momentos em que o Bobo desgrudou de Leda, ficou martelando a sua cabeça. Será que ele devia seguir seu instinto e dizer a Ela tudo que ele sentia? Será que valeria a pena ou seria mais uma decepção na sua vida?
Preferia deixar o tempo passar mais um pouco, e ver oque acontecia.
Foi se encontrar com ela, sem demonstrar oque estava sentindo, mas ao se aproximar dela, um frio tomou conta do seu corpo, o cheiro dos lírios entrou pelo seu nariz e fez seu coração bater mais forte. "É ela!", pensou o Bobo. Ela é a pessoa que ele quer ter ao lado durante o resto da sua vida.
Enquanto ela fala, ele não escuta. Só pensa em um jeito de dizer isso a ela.
"Foi engraçado hoje, quando o palhaço subiu no elefan..."
Sem esperar, enquanto contava o acontecimento engraçado que ocorrera no Picadeiro, Leda teve seus lábios beijados pelo Bobo pela primeira vez. Uma sensação de euforia tomou conta de ambos seus corpos, turbilhões de hormônios vibravam com a situação, em dois corpos aparentemente frágeis.
Ao terminar o beijo, os olhos se abriram e olharam fixos um para o outro, um olhar confidente.
"Obrigado por existir!", disse o Bobo.

segunda-feira, 9 de junho de 2008

Vivendo uma mentira

E a vida segue, e, cada vez mais, o Bobo passa mais e mais tempo ao lado de Leda, a palhaça.
E continua fingindo ser seu amigo, companheiro e confidente. Segue vivendo essa mentira, segue de maneira insolente. Segue fazendo o Malabarista sofrer pela falta dos amigos que perdera.
Porém, conforme o tempo passa, o Bobo não faz mais isso pela vingança, e sim, porque a presença da palhaça ao seu lado é necessária. Ele passa mal se não a encontrar durante o dia e não sonhar com ela a noite. Seu coração de pedra virou esponja, que ao comprimida pela saudade, faz cair lágrimas dos seus olhos.
Espetáculo após espetáculo, aplausos após aplausos, a amizade entre os dois vai crescendo. O Bobo não se importa que o Malabarista tenha ido embora procurar outro circo, nem que Aba e Ubaldo apareçam apenas esporadicamente, o que lhe importa é estar ao lado de Leda. E nada mais.
Ela, também, parece não se importar com a vida passando ao seu lado, apresenta seus shows olhando para o Bobo, como se o mundo girasse ao redor dele, enquanto, em câmera lenta, o tempo passa.

terça-feira, 3 de junho de 2008

A vingança


Sem ouvir os conselhos de Aba, a cabeça fantasma que ele conhecera a algum tempo, o Bobo pensava num plano para se vingar do Malabarista.
Mas o que poderia ser pior como castigo?
"Claro! - uma idéia brotou na sua cabeça - ele vai sentir o mesmo que eu senti!"
O plano do Bobo era conseguir uma pessoa para substituir o seu antigo amigo.
Mas estava difícil, ninguém parecia interessado em ser amigo do Bobo. Numa situação complicada, Ele não sabia mais o que fazer, exceto sentar e chorar.
Enquanto lágrimas corriam pelo seu rosto, Ele, ainda de cabeça baixa, viu um pequeno par de pés com sapatilhas coloridas parar bem a sua frente, enquanto um leve aroma de lírios tomava conta do ar.
Ao levantar a cabeça, percebera que quem se encontrava a sua frente era a Palhacinha, causadora de tanta discórdia.
"O que houve? - perguntou ela - você está com algum problema?"
Agora, um sorriso estava estampado no rosto do bobo, seu plano sairia melhor que a encomenda. Porque não roubar a amiga do Malabarista?
"Eu preciso ter alguém ao meu lado", disse o Bobo.
A palhaça sorriu, sem saber o mal que abrigava o coração do Bobo naquele momento.

quinta-feira, 29 de maio de 2008

Alguma coisa bem lá dentro

E assim passam os dias, o Bobo faz suas tarefas, não tão importantes, mas indispensáveis de acordo com o Rei, e nas horas vagas vai ao circo, assistir as apresentações do seu amigo, o Malabarista.
Algumas vezes Ubaldo se encontrava por lá, mas, sempre que a Guarda Real aparecia, ele sumia, como num passe de mágica. Isso incomodava o Bobo, que já havia decidido, na próxima conversa com Ubaldo perguntaria a razão dele fugir da Guarda o tempo todo, mas deixemos isso pra outra estória.
Ao fim desse espetáculo, o Bobo foi conversar com o Malabarista. Porém, ao chegar perto dele, percebeu que o mesmo estava entretido, conversando com uma Palhacinha. Uma palhaça bonita, que estampava um sorriso de um lado ao outro do rosto, com um cheiro que lembrava os campos de lírios atrás do Castelo, podendo ser sentido pelo Bobo, mesmo ele estando a certa distância da garota.
Sem se importar com a presença da menina, o Bobo fez uma saudação ao seu amigo, que lhe retribuiu, mas logo virou o rosto e voltou a conversar com ela.
"Que ousadia!", pensou o Bobo, ao perceber que seu amigo encontrara uma pessoa que, na visão do Bobo, o substituiria. Afinal, qual o sentido de trocar um bobo da corte por uma palhaça?
Alguma coisa começou a arder dentro do Bobo, uma vontade de gritar, dizer ao Malabarista que ele ainda tinha muito a oferecer como amigo.
Ao invés de fazer isto, o Bobo engoliu todo aquele sentimento que estava sentindo pela primeira vez e foi embora. O Bobo acabara de conhecer o que era o ciúme.

segunda-feira, 12 de maio de 2008

A resposta para tudo

O pedinte demorou, parecia estar longe, quem sabe num outro Universo. De repente, respondeu:
-Me chamam de Ubaldo*. E quanto a essa duvida na sua cabeça, só posso te dizer que você deve fazer o que te deixa feliz.
Uma sensação muito estranha tomou conta do Bobo, como esse pedinte invadira sua mente e tirara essa dúvida de dentro da sua cabeça?
-Como você fez isso? Como você fez isso?, o Bobo já estava gritando.
O pedinte soltou uma gargalhada.
-A resposta para todos os problemas da vida é ser feliz! Eu tento ser feliz vivendo minha vida aqui, você vive a sua. Porém, agora que você disse isso, sei que você tem alguma coisa que te impede de ser feliz. E quando quiser conversar, me procure por aqui. Mas nossa conversa terá que acontecer outro hora, pois eles estão vindo.
Ao olhar na direção para a qual Ubaldo olhava, o Bobo viu os guardas do palácio se aproximando. Ao voltar seu olhar para onde o pedinte estava, só viu uma pilastre, sem ninguém encostado nela.
"Só pessoas estranhas habitam esse lugar, não me excluo dessa tenebrosa lista, será que isso é feitiço de algum bruxo malvado ou um castigo de Deus? Não, não. Todas as pessoas são estranhas, de um jeito ou de outro."


*Ubaldo significa Espírito Ousado, isso vai ser importante para a continuação da estória.

sábado, 3 de maio de 2008

O pedinte

"Aproveitar a vida, cada momento dela, como se fosse o último"
Essa idéia ficou martelando a cabeça do Bobo, por vários dias, a cada espetáculo circense que ele assistia, via o amigo voando e sonhava que um dia pudesse fazer o mesmo, não no sentido literal claro.
Andando pelo castelo, cego ao que acontecia a sua frente, bate a cabeça em uma pilastre. Ao cair no chão, olha para os lados com vergonha, mas ninguém viu o acontecido.
Ninguém, exceto um pedinte que estava encostado em uma pilastre ao lado. Mas ele não ria, estava sério.
Mesmo envergonhado como estava, o Bobo perguntou ao pedinte:
-Por que você não está rindo?
Agora sim, o pedinte sorriu e disse:
-Você está bem? Acho que a batida na cabeça lhe afetou um pouco. Falar com um pedinte não é tão comum.
O bobo riu também.
-Nesse reino um bobo não é melhor que um pedinte. Mas pedinte não é o seu nome. Como te chamam?

quinta-feira, 24 de abril de 2008

O circo chegou

O circo chegou!
E rapidamente uma idéia brotou na cabeça do Bobo: porque não procurar um amigo circense?
-Nossos trabalhos possuem o mesmo objetivo, fazer as pessoas felizes, distraí-las dos problemas da vida.
Seguindo a carreata colorida, o Bobo esperou que o circo se instala-se e começou a procurar pelo seu tão esperado amigo.
Porém, percebeu que vários tinham o seu mesmo problema.
O palhaço era triste e mesmo assim tinha que fazer os outros felizes. O domador de leões que sonhava em ir pra África mas não podia. O mágico cujo grand finale seria desaparecer para sempre.
O único que parecia feliz era o trapezista. E quando o Bobo foi falar com ele, foi recebido com um enorme sorriso, de orelha a orelha.
Quando perguntou o motivo de toda essa felicidade, o trapezista respondeu:
-Sou feliz, porque estou sempre voando por sobre o picadeiro,tem vezes que não sei se sou homem ou anjo, se pulo para ser livre ou se fico para a posteridade.Só sei que cada segundo no ar, demora uma eternidade. Mas sei que a vida não é um vôo livre, por isso o tempo aqui passa rápido, fazendo com que a vida seja aproveitada a cada instante.
E isso abriu os olhos do Bobo, ter um amigo não é tudo, claro que ajuda, mas viver tentando ser feliz é o que importa.

terça-feira, 15 de abril de 2008

À procura de um amigo

Correndo desesperadamente, o Bobo só pensava em chegar a um lugar, a parte do reino que mais pessoas frequentavam: a feira.
Chegando lá, olhou para os lados, procurando alguém que lhe mostrasse, no mínimo, um sorriso amigável.
O peixeiro estava ocupado com seus peixes, nem olhou para o seu rosto.
A fruteira esboçou um sorriso, mas, nesse momento, um moleque roubou uma das suas maças, bem vermelhas, fazendo ela correr atrás dele.
Estava difícil, o único motivo pelo qual as pessoas olhavam pra ele era para caçoar, mandar ele fazer alguma coisa engraçada. Será que é difícil para eles perceberem que nem sempre um Bobo está feliz? Que ele precisa conversar de vez em quando?
Enquanto pensava nisso, todas as pessoas saíram correndo e gritando, o que estava acontecendo?
Eram gritos de felicidade.
Pelas ruas estreitas do reino, uma massa colorida se arrastava.
.
.
O circo chegou!

quinta-feira, 10 de abril de 2008

A definição


Chegando a biblioteca, abalado pela discussão que havia presenciado, o Bobo não se lembrava oque ia procurar naquela floresta de livros.
Porém, enquanto forçava sua memória para lembrar, o fantasma que o havia visitado anteriormente apareceu e sorriu.
Com esse sorriso amistoso estampado no seu rosto transparente, derrubou um livro grosso, muito grosso: era um dicionário.
Então ele se lembrou, havia ido procurar o significado, a definição de amizade, para ver se tinha algum amigo. E isso foi oque ele encontrou:


''amizade: do Lat. *amicitate
substantivo feminino,
afeição;
amor;
boas relações;
laço cordial entre duas ou mais entidades;
dedicação;
benevolência ''

Parou por um instante, refletiu, e percebeu:
- Não tenho amigos, não tenho em quem pensar quando estou triste e não sou pensado por ninguém que precise de ajuda. Preciso mudar isso, começando a partir de agora!
E saiu correndo da biblioteca, deixando o livro jogado no chão, enquanto o fantasma continuava sorrindo. vendo que havia iniciado uma rebelião dentro do cérebro d
aquele bobo.

sexta-feira, 4 de abril de 2008

Reisligião

Enquanto se dirigia à biblioteca do Palácio, o Bobo ouviu uma árdua discussão entre o Rei e o Bispo:

-Deus sou eu!, disse um.
-Deus é Tudo!, retrucou o outro.
-Deus é o mal!
-Deus é a bondade!
-Ele inventou o Pecado!
-Ele também inventou o Perdão!
-Eu brilho mais que o Sol, eu tenho mais terras que qualquer outro Rei!
O bispo encarou o Rei por um segundo, e falou com desdem:
-Ele é o Sol, Ele é o maior Rei.
.
.
.
O Bobo ficou confuso e pensou consigo mesmo: ''Deus é Deus! Para que essa confusão?! Cada um tem a sua opinião!".
Ainda bem que ele não deu a Sua, pois ele não sabe como terminou essa conversa, mas sabe que o Bispo nunca mais foi visto nos arredores do Castelo. É incrível o poder que determinadas pessoas têm, e como usam ele para tomar decisões que só são benéficas ao seu ego.

domingo, 30 de março de 2008

Rostos falsos

Ainda meio atordoado com o acontecimento ocorrido alguns dias antes, o Bobo segue com a sua rotina. E, como parte dessa rotina, uma festa está pra começar, assim como todo dia que antecede o dia de missa, o baile de Máscaras!
Ele troca a triste roupa azul e grená por uma mais alegre e festiva, verde e prata -ordens superiores, ao seu ver a roupa mais triste lhe caia muito melhor- e segue para a festa.
Milhares de pessoas no salão, dançando e se escondendo por trás das suas máscaras, Lobos na pele de cordeiros, isso que eles são. A Condessa de Boa Vista acha que uma máscara que a faz parecer um Anjo vai ajudá-la a esconder seus casos de adultério que já correm pela boca de todos do reino, assim como o Barão de Agamenon, que acha que por trás de uma simples máscara ele pode esconder toda a sujeira do seu governo.
Assim é a vida, uns nascem para ser bobos durante todo seu tempo na Terra, enquanto outros aproveitam algumas oportunidades pra bobear por aí, tentando fazer os outros de bobo.
-Olhem! -alguém grita- É o Príncipe de Piedade!
''Rum, ele está fantasiado de Bobo. Faça-me o favor!'' Ele começa a dar uns saltinhos de um lado para o outro, todos riem, faz um gracejo para algumas moças que riem sem parar, elas gostam.
''Ai meu Deus, ainda tenho que aguentar isso! Por quê?''
O Bobo então pega uma taça de vinho e se recolhe à sua insignificância num canto escuro do salão.
''Um dia isso vai acabar'' pensou ele.

segunda-feira, 24 de março de 2008

Conversa entre seres invisíveis


Lá está o Bobo, no alto da mais alta Torre do Castelo.
Tomando um bom vinho, ele se distrai observando a paisagem, quando um voz sussurra no seu ouvido:
-Ah, que bela paisagem. Eu costumava vir sempre aqui.
O Bobo toma um susto. Ao seu lado, uma cabeça paira no ar, transparente e frágil, mas ao mesmo tempo tão concreta e verdadeira.
-Morei por muitos anos nesse castelo, continuou ele, sei tudo sobre tudo, e tudo sobre todos.
Recuperado do susto, Ele se interessou pela conversa e perguntou ao fantasma o que ele fazia pra passar o tempo quando a tristeza e a solidão invadiam sua mente.
-Eu conversava com os seres invisíveis, dos quais agora faço parte, disse sorrindo. Eles me contavam tudo: as manias dos Reis, os pensamentos das Rainhas, as Fofocas entre as criadas, o que aconteciam nas festas, e, como perguntei a eles, você também pode perguntar a mim. Porém, antes disso, você precisa aprender um pouco sobre amizade.
Antes que Ele pudesse dizer alguma coisa, o fantasma foi desaparecendo, como o vapor d'água que sai de uma chaleira.
De repente Seu rosto começou a ficar quente.
Ele abriu os olhos. Havia adormecido no meio de uma taça de vinho.
Ele sorri, pelo menos por esse momento, enquanto o Sol estica-lhe a face.

quinta-feira, 20 de março de 2008

O ínicio

O Bobo está sempre no Palácio, andando pra lá e pra cá, dando piruetas e cambalhotas.
Ele é um instrumento do Palácio, assim como uma mesa de jantar ou o Trono do Rei. O Bobo só serve pra uma coisa: fazer com que os Nobres esqueçam os problemas da sua vida..mas e os seus problemas, quem vai fazê-lo esquecer?
Não importa se ele está Triste, deprimido, ele sempre tem de estar com um grande Sorriso no rosto, esperando que riam das suas Piadas, que o achem engraçado, ou então ele será Decapitado, porque o Bobo não tem uma segunda chance.